Ciclaveiro
Há opções… e opções

Há opções… e opções

Cheguei de Utrecht, na Holanda, há mais de uma semana, mas a forma de viver naquela cidade ainda faz parte das lembranças diárias.

Embora saibamos bem que a bicicleta é o meio de transporte de referência – e por excelência – nas cidades destes países mais a norte, a verdade é que continuo a ficar surpreendida com este dia-a-dia. Sobretudo quando o frio é muito, quando há chuva e neve à mistura ou quando as distâncias nos fazem sair da zona de conforto.
Utrecht é uma destas cidades, onde há os que andam de bicicleta e há os outros que andam de bicicleta. E mesmo quando todos os argumentos coexistem – neve, frio, crianças, distâncias longas – eles andam de bicicleta.
E é aqui que temos tanto a aprender e tantos argumentos a perder.

Porque se nos refugiarmos em razões como cidades planas e preparadas para o ciclista, não conseguiremos ganhar, já que também nós temos cidades com altitudes convidativas e as ciclovias não são elementos da natureza, mas sim construídas e planeadas pelo Homem. E no início deste dia-a-dia não havia ciclovias. Elas foram planeadas e construídas porque as pessoas o quiseram, o pediram e assim escolheram. Porque perceberam que era a melhor opção para a mobilidade urbana e é esta força motora que leva a que ordenamento e a estratégia urbana se defina. É nesta vontade e nesta escolha que reside o início da criação das melhores condições para as opções tomadas. A prova disto é a mudança, recente, nestas cidades holandesas da prioridade do ciclista em várias vias públicas, onde é lindo ver os carros atrás de um bando de bicicletas.

Nós, como povo, país, pessoas, escolhemos o carro em detrimento de outros meios de transporte, e as nossas cidades foram construídas sob essas opções.
Se continuarmos a preferir levar o carro até ao ginásio, subir a escada rolante até à porta de entrada e lá, sim, fazer aula de “bike”, será também uma opção.
A mais saudável, sustentável, interessante, económica e engraçada?
Não, isso definitivamente, não.

Alexandra Monteiro
Investigadora DAO, UA