Na sequência da notícia publicada no site do Município de Aveiro sob o título “Câmara de Aveiro apoia programa “O Ciclismo vai à Escola” e a Volta a Portugal Feminina em Bicicleta”, referindo que a iniciativa “ … visa a promoção do ciclismo de competição, assim como a dinamização de atividades pedagógicas de promoção do uso da bicicleta nas Escolas do ensino básico do Município …” e que “Com este apoio, a CMA reforça o seu compromisso com a promoção da mobilidade suave, da atividade física e da educação para estilos de vida saudáveis entre os mais jovens …”, a Ciclaveiro vem dar nota pública do seguinte:
1. A Ciclaveiro, associação e ONG de Ambiente que promove o uso da bicicleta na cidade, felicita o Executivo Municipal pelo seu declarado compromisso com a promoção da mobilidade suave. No entanto, importa sublinhar que uma prova de ciclismo — ou mesmo o termo “ciclismo”, enquanto prática desportiva — não deve ser confundida ou promovida como mobilidade suave. Trata-se de uma atividade física, sim, mas com objetivos distintos, centrados na velocidade e num ambiente de competição, e não no uso quotidiano da bicicleta como modo de transporte acessível, seguro e sustentável, inserido num contexto diário de deslocação na cidade.
2. A Ciclaveiro tem vindo, ao longo da última década, a promover de forma contínua, resiliente e com bastantes desafios orçamentais uma verdadeira mobilidade ativa na cidade de Aveiro. Projetos como a Casa da Bicicleta – com cicloficina comunitária, veloteca e agenda de eventos – o PéPedal, a Academia Mini Rodas e a KidicalMass são exemplos concretos de iniciativas que incentivam a mudança de comportamentos, envolvendo a comunidade local e as comunidades escolares na promoção do uso diário da bicicleta em segurança.
3. O impacto destas ações seria significativamente ampliado se a preocupação da autarquia se traduzisse também no apoio consistente a estas iniciativas e na criação de condições reais de segurança e acessibilidade para os cidadãos que querem, mas não conseguem, utilizar a bicicleta como modo de transporte na cidade.
4. Ao longo dos últimos dois anos, a Ciclaveiro envolveu 2000 alunos do Ensino Pré-Escolar e Básico de 1º Ciclo de 4 escolas do Agrupamento de Escolas de Aveiro no programa de mobilidade escolar ativa Pé Pedal, com cerca de 4000 deslocações a pé e de bicicleta para a escola, num contexto regular de quotidiano das famílias e de uso e partilha de espaço público com outros modos de transporte, trabalhando de forma consistente ao longo de todo o ano letivo com as comunidades escolares destas 4 escolas para uma mudança efetiva de hábitos de mobilidade das famílias.
Este programa tem sido implementado pela Ciclaveiro com o apoio institucional do Agrupamento de Escolas de Aveiro, o apoio logístico e de mobilização das 4 Associações de Pais e Encarregados de Educação das escolas de ensino pré-escolar e básico de 1º ciclo, com a disponibilidade inspiradora de cerca de 200 pais e encarregados de educação e os recursos humanos da Ciclaveiro, que trabalham de forma totalmente voluntária para gerir, coordenar, operacionalizar e articular toda a implementação do PéPedal nas 4 escolas ao longo dos 10 meses do ano letivo.
5. Este projeto, que visa efetivamente promover hábitos de mobilidade ativa das crianças e das famílias nas deslocações para a escola e que envolve professores, associações de pais e encarregados de educação, famílias e agentes do comércio local, desportivos e culturais, com impacto direto em toda a comunidade, com benefícios para a saúde, bem estar, autonomia dos cidadãos e equilíbrio ambiental e sustentabilidade territorial, tem contado apenas com recursos financeiros próprios da Ciclaveiro, com todas as limitações inerentes a uma associação sem fins lucrativos.
6. Até à presente data, a autarquia não tem visto neste projeto qualquer mérito que mereça apoio financeiro ou sequer institucional, apesar dos inúmeros contactos e tentativas de envolvimento do Município que a Ciclaveiro tem feito desde o primeiro dia da sua implementação. Entendemos que ter o Município como parceiro institucional do PéPedal e apoio financeiro para a sua execução e manutenção ao longo do ano letivo nas escolas básicas do centro da cidade permitiria alavancar o impacto do projeto na comunidade e na real transformação da mobilidade urbana, dando-lhe uma visibilidade e projeção necessárias à captação de fundos nacionais e europeus que permitissem melhorá-lo e até replicá-lo para outras escolas do concelho.
7. Lamentavelmente, este executivo municipal não tem assim entendido e continua a optar por apoiar iniciativas de carácter desportivo e de competição, traduzidas em eventos pontuais que em nada alteram os hábitos de mobilidade das crianças e jovens do concelho que continuarão a usar a bicicleta em contexto desportivo e/ou de lazer, perpetuando o paradigma de mobilidade assente no uso do automóvel privado com óbvios e sobejamente conhecidos prejuízos para o bem estar, saúde e qualidade de vida dos cidadãos, aumento do congestionamento urbano, poluição e desequilíbrios ambientais.
8. A Ciclaveiro continuará a fazer o seu trabalho de forma convicta, contando com todos os que, de forma extraordinária e notável, acreditam e apoiam uma mudança na forma como nos deslocamos na cidade, com condições seguras e equitativas, sempre com uma expectativa otimista no futuro!
Ciclaveiro – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta
03 de julho de 2025