No seguimento dos planos apresentados pelo Município de Aveiro para a requalificação da Avenida Dr. Lourenço Peixinho e da contestação gerada em torno de algumas opções do referido projeto, a Associação Ciclaveiro apoiando-se nas várias orientações técnicas nacionais e internacionais, apresentou uma proposta de um Perfil Tipo para a Avenida Dr. Lourenço Peixinho que visa colmatar as falhas mais evidentes.
Na proposta que apresentamos partimos dos princípios básicos da hierarquia de tomada de decisão nas medidas de redução do perigo rodoviário e melhoria das condições de mobilidade urbana, nomeadamente:
1) Redução do volume e velocidade de tráfego motorizado.
2) Tratamento de interseções e pontos críticos de forma a aumentar a segurança de todos os utilizadores.
3) Distribuição do espaço de forma equilibrada, privilegiando os modos de transporte ativos (pedonal e ciclável) e os transportes públicos.
Investir na mobilidade e nos modos de transporte ativos e suaves não significa gastar mais, muito pelo contrário, é uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e a sustentabilidade do território reduzindo os custos indiretos da excessiva utilização do automóvel particular. Uma maior utilização da bicicleta como meio de transporte traz inúmeros benefícios à sociedade em geral, para além das vantagens imediatas no âmbito da mobilidade em si.
Convém aqui recordar que estes princípios orientadores foram já abordados num documento com 52 sugestões enviado pela Associação Ciclaveiro à Câmara Municipal de Aveiro em Janeiro de 2016 no âmbito da Participação Pública para a Revisão do PDM (Plano Director Municipal), por forma a contribuir para que a utilização da bicicleta em Aveiro se torne verdadeiramente uma opção de transporte segura, cómoda, conveniente, desejável e comum, de modo a que Aveiro se possa tornar nos próximos 10 anos num modelo a nível nacional em termos de mobilidade ciclável e sustentável, com os benefícios sociais, económicos, ambientais, de qualidade de vida e de saúde pública para todos daí provenientes.
Assim, espera-se que a autarquia aproveite esta vaga de operações apoiadas no financiamento captado no âmbito do PEDUCA para integrar uma série de opções que permitam a reconversão deste paradigma ultrapassado e centrado nos transportes motorizados individuais.
No sentido de clarificar e ilustrar os argumentos relativos aos pontos que consideramos críticos fazemos de seguida um comparativo entre o plano apresentado pela autarquia e um Perfil Tipo elaborado pela Associação Ciclaveiro.
a) Faixa BUS encaixada entre o estacionamento e a faixa de circulação automóvel.
b) Faixa BUS partilhada com bicicletas
c) Faixa de bicicletas paralela à zona de estacionamento automóvel
Este três fatores conjugados resultam num benefício claro à circulação automóvel em detrimento dos modos suaves, subvertendo os princípios básicos do planeamento destas infra-estruturas em meio urbano.
Dado o panorama atual desta artéria, poderá dizer-se que uma faixa dedicada aos transportes coletivos é sem dúvida uma inovação, contudo, nesta disposição, tem todo o potencial para se tornar numa segunda fila de estacionamento automóvel, à semelhança do que acontece atualmente. Esta situação hipotética e empírica, caso se verifique, diminuirá a fluidez do transporte coletivo que terá que continuar a competir com o trânsito automóvel.
Mais grave ainda seria a partilha de uma via de transportes coletivos com bicicletas, situação que é totalmente desadequada e apenas tolerável quando não se prevê qualquer intervenção na infra-estrutura que permita o seu reperfilamento. Neste caso concreto, uma vez que está previsto um novo desenho de toda a avenida, seria completamente despropositado optar por esta solução.
A proposta do perfil a seguir apresentada, tem por base uma distribuição equilibrada do espaço, garantindo as mesmas condições de segurança e fruição a todos os modos de transporte, mas facilitando o acesso aos espaços (comerciais/serviços/habitação) aos modos suaves de mobilidade.
Primeiro o espaço é atribuído às pessoas, depois às bicicletas, depois transportes públicos, depois a circulação automóvel e por fim ao estacionamento automóvel.
a) Passeios com, pelo menos, 4m de largura
b) Ciclovia dedicada, imediatamente a seguir ao passeio
c) Faixa BUS exclusiva
d) Via de circulação automóvel em posição central na faixa de rodagem
e) Estacionamento automóvel junto ao separador central
Imagem 1 – Perfil tipo proposto
f) Zonas de paragens BUS e outros equipamentos
Imagem 2 – Exemplo de Perfil Tipo em zona com paragem de autocarro (interrupção de estacionamento num dos sentidos)
NOTA: As imagens apresentadas têm em conta as dimensões reais da Avenida e garantem o cumprimento dos requisitos regulamentares para vias de trânsito.
A Ciclaveiro surpreende-se que em pleno século XXI se pondere repetir erros graves nestas matérias. Defendemos que se invista na adoção de medidas integradas e que dêem primazia aos modos ativos de mobilidade em detrimento do transporte individual motorizado.
A actual proposta do Município destaca-se pela inexistência de vias dedicadas a bicicletas no principal eixo viário urbano da “Cidade Capital da Bicicleta” – título que não corresponde à realidade atual.
A intervenção na Avenida Dr. Lourenço Peixinho deverá simbolizar a aposta efetiva da cidade na mobilidade suave, dando o mote para o desenvolvimento da Rede Ciclável que o Município se comprometeu implementar.
O “Perfil Tipo” apresentado pela Ciclaveiro resolve as principais lacunas do projeto apresentado pelo Município.
A Ciclaveiro, conhecedora da realidade deste espaço da cidade, reforça a disponibilidade para discutir com a autarquia estes e outros pormenores que não cabem nesta proposta, mas que seguramente trariam fortes repercussões na sustentabilidade desta área estratégica da cidade.
AVEIRO, 22 de Março de 2019