Sou carioca e vim para Aveiro no dia 10 de Outubro de 2020 para dar início ao mestrado de Planeamento Urbano e Regional na Universidade de Aveiro. Nos primeiros dias na cidade, logo verifiquei que havia uma cultura de carros e de bicicletas. Já pretendia comprar uma bicicleta para os meus deslocamentos pela cidade e pedi ajuda a um amigo que vivia em Aveiro, que me indicou a Ciclaveiro, onde fui muito bem recebida e auxiliada na busca da bicicleta que queria pelo Jorge Monteiro.
Duas semanas se passaram onde estive como peão e onde pude observar que a utilização de bicicletas não era algo muito presente, talvez pela falta de espaços para o uso seguro deste tipo de transporte nas atividades diárias. Até que de repente, encontrei uma bicicleta dentro do perfil que tanto buscava e logo fui buscá-la e levei-a até a Ciclaveiro, para que assim pudesse ter ajuda numa revisão com um olhar mais atento. Ao chegar na Ciclaveiro, já feliz por ter a minha bicicleta nas mãos, fiquei mais feliz ainda por finalmente poder conhecer a nova Casa da Bicicleta! Sim, é verdade, este espaço havia sido inaugurado há poucas semanas atrás. Me senti muito bem recebida por todos. Depois, fui até lá para aprender um pouco mais sobre algumas técnicas de reparo, e já não voltava sozinha para casa, pois ela estava pronta para me receber como companheira também. Feliz, voltamos juntas a sentir pela primeira vez os ares da noite de Aveiro.
Confesso que no primeiro mês, andando de bicicleta pela cidade, senti um pouco de dificuldade, porque era a primeira vez que utilizava a bicicleta como meio de transporte para as minhas atividades diárias, pois no Rio de Janeiro não conseguia usá-la desta forma. E portanto custou-me um pouco tornar a minha forma de planear os trajetos de um ponto a outro como ciclista que respeita os sentidos das vias, os lugares de atravessamento para bicicletas, entre outras regras.
Somos aventureiras, e nos apetece muito desbravar lugares novos! É a minha companheira que me permitiu conhecer o mar da Praia da Barra e da Costa Nova, a ria e seus passadiços, os caminhos aleatórios e mais seguros para fazer as compras da semana e as voltas em companhia com amigos que cá fiz, e que muitos também são apaixonados pela bicicleta. Ela está presente em dias alegres e em dias de reflexão íntima. Ela me conhece e respeita os dias que estou mais ousada e corajosa, e aqueles que estou mais calada. E sempre no regresso, nos agradecemos pelos momentos proporcionados uma à outra, acompanhado de um carinho meu, no guidão.
Amo a bicicleta e amo andar de bicicleta em Aveiro e sabem porquê? Porque sentir o vento aveirense na bicicleta me traz a sensação de poder voar! Sim, simplesmente voar! Sentir o vento da ria junto aos seus pássaros e acompanhá-los em seu balet formoso, é algo maravilhoso! Ela me dá a liberdade que tanto amo e preciso para ser feliz em toda a sua plenitude. É a minha companheira nesta cidade tão linda que adotei como meu lar.
Julia Draghi